quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Mario Goncalves_ A FÚRIA



Literatura  -  13:40
                                                       A FÚRIA


Começou lentamente!
Evoluiu de um diálogo completamente banal.
 Alimentou-se de sarcasmo, ateou-se com acusações e ressentimentos.
Subitamente, a tua fúria abateu-se sobre mim.
 Qual dique que cede, submergindo-me, arrastando-me.
Tento resistir, retribuir.
Avisto o Rubicão!
A rutura inevitável. O ponto em que o que é dito não tem retração possível.
O espaço que nos rodeia é opressivo, o ar pesado.
Recuo!
Começo a dirigir-me para a saída.
Os teus punhos cerrados atingem-me no peito.
A tua cabeça inclina-se com violência, uma madeixa do teu cabelo; Branca como a neve; roça pela minha a face.
 Nesse preciso momento recordo o nosso primeiro beijo; qual “Déjà-vu” invertido:
 Os teus punhos empurram-me frouxamente o tronco, a tua cabeça inclina-se numa fuga sem energia aos meus lábios.
E a mesma madeixa! Só que negra; a roçar-me a face, a encher-me de desejo.
Olho para ti. És bela.
A minha perceção muda. A tua fúria revela-se medo. A violência, insegurança.
Um carinho imenso por ti enche-me o peito.
 Estou na tua mente, no teu coração.
Abraço-te!
 Resistes!
Encosto a minha cara a tua.
Murmuro que te amo ao ouvido. Que sempre amei, mesmo quando pensei que não.
Que não concebo uma vida sem ti a meu lado.
Gradualmente o teu corpo perde a rigidez.
A tua face ainda resiste.
Beijo-te a orelha.
Miras-me de lado, já sem fúria nem odio.
Sorris!
Olhas-me nos olhos.
Beijo-te novamente.
Vejo-me refletido no teu olhar.
Pouso os meus lábios nos teus, que se abrem para mim.
O espaço rasga-se.
O ar entra as golfadas, puro.
O meu coração é novamente jovem, a minha paixão sábia.
 E tu meu amor, a justificação da minha existência!





LuísM Castanheira
14:49
 
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Há um provérbio chinês que diz: "A flecha atirada, não regressa". É como as palavras, em fúria atiradas. Mas o Amor, esse Amor, enraizado, tem a carapaça  resistente a momentos como este. O sentimento do que somos
fica patente ao outro e, embora as palavras magoem, elas ficarão esquecidas, perdidas, nunca atingindo o alvo.
Belo, este momento de Amor. +Mario Goncalves . Se me permite, vou guardar em texto no m/blog.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

António Jacinto_Vadiagem


Amílcar Cabral_Regresso

REGRESSO

Mamãe Velha, venha ouvir comigo
o bater da chuva lá no seu portão
É um bater amigo
que vibra dentro do meu coração.

A chuva amiga, Mamãe Velha, a chuva,
que há tanto tempo não batia assim...
Ouvi dizer que a Cidade-Velha,
- a ilha toda -
Em poucos dias já virou jardim...

Dizem que o campo se cobriu de verde,
da cor mais bela, porque é a cor da esp'rança.
Que a terra, agora, é mesmo Cabo Verde.
- É a tempestade que virou bonança...

Venha comigo, Mamãe Velha, venha,
Recobre a força e chegue-se ao portão.
A chuva amiga já falou mantenha
E bate dentro do meu coração!


(Amílcar Cabral)_GUINÉ-BISSAU


quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Jorge Fernando - Desespero (com Virgul e Dino d´Santiago)




letra


Desespero... o mar turva-se aos meus olhos
Porque o céu amua com a terra e entristece
Desespero... roça a minha fantasia
A língua da serpente e o meu céu não amanhece

Rasga a seda do meu sonho
Toma-me em teus braços nos instantes do delírio
Rasga o ventre do teu dono
Com a sinfonia nos compassos do martírio

Salva-me...
Amor salva-me
Estrela sensual que o meu céu seduz
Amor salva-me...
Vem e salva-me
Olhar tropical que ao meu olhar dá luz

Desespero... mordo a minha consciência
Em três Avé Marias onde salvo a existência
Desespero... estendo a minha cobardia
Nos lençóis de linho onde existe a tua ausência

Sopra o vento
E o pensamento teima em persegui-lo num perfeito desatino
Rola o tempo
E o coração aceita as leis da vida, indiferente ao seu destino

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Naquela mesa




 
letra

Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre o que é viver melhor
Naquela mesa ele contava histórias
Que hoje na memória eu guardo e sei de cor
Naquela mesa ele juntava gente
E contava contente o que fez de manhã
E nos seus olhos era tanto brilho
Que mais que seu filho
Eu fiquei seu fã

Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa num canto, uma casa e um jardim
Se eu soubesse o quanto dói a vida
Essa dor tão doída não doía assim
Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala do seu bandolim
Naquela mesa tá faltando ele
E a saudade dele tá doendo em mim
Naquela mesa tá faltando ele
E a saudade dele tá doendo em mim

Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa num canto, uma casa e um jardim
foto luís castanheira
Se eu soubesse o quanto dói a vida
Essa dor tão doída não doía assim
Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala do seu bandolim
Naquela mesa tá faltando ele
E a saudade dele tá doendo em mim                                          
Naquela mesa tá faltando ele
E a saudade dele tá doendo em mim

Naquela mesa tá faltando ele
E a saudade dele tá doendo em mim
Naquela mesa tá faltando ele
E a saudade dele tá doendo em mim.

Música:Sérgio Bittencourt


À beira do Tejo
um café e um desejo:
não demores!
Límpida suavidade
É a espera de verdade.
(por ti, Sofia)



Alberto Caeiro [Fernando Pessoa], dito por Pedro Lamares


Se eu pudesse trincar a terra toda 
E sentir-lhe um paladar, 
Seria mais feliz um momento ... 
Mas eu nem sempre quero ser feliz. 
É preciso ser de vez em quando infeliz 
Para se poder ser natural... 
Nem tudo é dias de sol, 
E a chuva, quando falta muito, pede-se. 
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade 
Naturalmente, como quem não estranha 
Que haja montanhas e planícies 
E que haja rochedos e erva ... 
O que é preciso é ser-se natural e calmo 
Na felicidade ou na infelicidade, 
Sentir como quem olha, 
Pensar como quem anda, 
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre, 
E que o poente é belo e é bela a noite que fica... 
Assim é e assim seja ...

Alberto Caeiro [Fernando Pessoa], dito por Pedro Lamares

Há 79 anos morre um dos poetas maiores da língua portuguesa Fernando Pessoa!)